Por: Clarissa S. Oliveira
INTRODUÇÃO
A Gestalt, Escola de Psicologia Experimental que surgiu na Alemanha do início do século XX, propõe a compreensão de determinados fenômenos visuais a partir da interpretação dos elementos que os compõem. Contribuem para isso: a cor, a forma dos elementos presentes, a sua disposição no espaço etc. Entre seus fundadores estão Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, ainda que outros teóricos sejam reconhecidos como fundadores ou co-fundadores desse tipo de psicologia, por exemplo, Von Ehrenfels.
A Gestalt fundamenta-se na ideia de totalidade: é pelo conjunto que observamos as partes, e elas se congregam de maneira global, dando sentido ao objeto visual que representam. Entre os princípios da Escola estão o Campo Perceptível (espaço temporal), a Estrutura (como se organizam os elementos) e a Forma.
2 SISTEMA DE LEITURA VISUAL DA FORMA
2.1 Procedimentos iniciais
Para proceder de maneira satisfatória na interpretação visual da forma de um objeto é necessário ter como condições essenciais: o nível de sensibilidade e o capital cultural, técnico e profissional, ou seja, o conhecimento de que dispõe o leitor para compreender as intenções de determinada produção. Sendo suas dificuldades iniciais sanadas à medida que for absorvendo os elementos que compõe o sistema de leitura visual.
Há duas formas principais de se proceder à leitura visual da forma de um objeto: a primeira é denominada Leitura visual do objeto pelas Leis da Gestalt, consistindo na aplicação de algumas dessas leis, como: unidades, segregação, unificação, fechamento, boa continuação, semelhança e pregnância. As etapas que fazem parte desse processo são as seguintes:
1. Examinar o objeto e segregá-lo em suas partes ou unidades principais.
2. Decompor estas unidades principais segregadas em suas outras unidades compositivas, e assim sucessivamente, até um nível considerado satisfatório.
3. Identificar, analisar e interpretar cada uma das leis da Gestalt em cada unidade, originadas por segregações de natureza variada no objeto, e descrevê-las caracterizando-as, por exemplo, como segregações físicas por meio de suas massas ou volumes e também por outros tipos de segregações como um ou mais de um dos seguintes elementos: pontos, linhas, planos, cores, etc. e, ainda, por características de acabamento como, brilho, texturas, relevos positivos ou negativos, e assim por diante.
4. Concluir a leitura visual, interpretando a organização formal do objeto como um todo, atribuindo um índice de qualidade para sua pregnância formal como, por exemplo: baixo, médio ou alto ou, se quiser ser mais preciso, atribuir um índice de avaliação de 1 a 10 (GOMES FILHO, 2004, p. 104).
A segunda forma de se proceder à leitura visual de um objeto é por meio das Categorias Conceituais, em que deve ser ressaltada a necessidade de conhecimentos prévios por parte do leitor, o qual “deverá procurar na leitura atenta do objeto aqueles conceitos que mais se aproximem ou coincidam com as diversas definições das igualmente diversas categorias conceituais” (idem, ibidem).
Após essas considerações, o leitor estará em condições de avançar para a próxima etapa que é realizar leitura sequencial, ou continuada do objeto, podendo ter uma apreensão panorâmica e minuciosa de como o objeto se organiza visualmente.
2.2 Análise da estrutura
Agora o leitor realizará as chamadas etapas complementares da análise que inclui dois pontos: 1) proceder à análise da estrutura perceptiva do objeto, 2) proceder à interpretação conclusiva.
O primeiro ponto consiste em:
1. Analisar a estrutura perceptiva do objeto em função do seu nível qualitativo, ou seja, em função da boa organização visual do todo e da articulação visual das partes que o compõem, nas suas relações resultantes dentro do contexto (...)
1.1 Listar as categorias conceituais que, segundo sua análise, estão explícitas ou inscritas na configuração das unidades e/ou do objeto como um todo.
1.2 Apontar e articular intelectualmente as diversas categorias conceituais em textos descritivos (a exemplo dos vários textos que aparecem ao longo do sistema e que exemplificam os diversos rebatimentos) (GOMES FILHO, 2004, p. 105).
Deve-se mencionar que este ponto é fundamental, pois dispõe os elementos necessários à compreensão formal daquilo que se tem em vista, ou seja, o objeto em si, para o qual o leitor encontra-se munido das informações precisas estando capacitado para emitir seu juízo de valor a respeito “da organização visual e dar a sua interpretação formal do objeto considerado” (GOMES FILHO, 2004, p. 105).
O segundo ponto da análise da estrutura é denominado Interpretação conclusiva/pregnância da forma, sendo a etapa final. É neste momento que o leitor irá avaliar se é possível distinguir, na imagem do objeto, seja no todo ou nas partes, a existência de padrões, principalmente de harmonia e equilíbrio, bem como, deverá avaliar a presença ou não de regularidade, de clareza e de coerência, traços que contribuem para uma compreensão mais unificada do objeto. Nesta etapa, será diagnosticado o nível de pregnância do objeto: alto nível caso seus elementos estejam organizados e haja equilíbrio, por exemplo; e baixo nível de pregnância caso seja identificada desorganização ou mistura de elementos. O nível de pregnância pode ainda ser um meio-termo, o que significa dizer que estará de acordo com o que for disponibilizado.
CONCLUSÃO
Conforme exposto, para além da mera compreensão de fenômenos visuais a Gestalt propõe, através de um procedimento próprio que envolve principalmente duas etapas, a interpretação visual da forma de objetos de maneira satisfatória. Esse procedimento envolve a leitura visual do objeto pelas leis da Gestalt e por meio das categorias conceituais, para somente então passar à análise da estrutura que inclui a interpretação conclusiva da forma do objeto.
Todo esse procedimento é realizado por um leitor com o fim de compreender e poder avaliar determinada produção visual. Para tanto, são necessárias algumas habilidades por parte do leitor.
A Gestalt, portanto, é uma possibilidade disponível para que conscientemente possamos interagir com conteúdos (produções) que em um primeiro momento não teriam uma significação visual tão marcante, mas que à medida que avançamos utilizando o procedimento já descrito percebemos as intenções ou aquilo que identificamos como as intenções do produtor.
REFERÊNCIA
GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. – 6. ed. – São Paulo: Escritura Editora, 2004.
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